quarta-feira, 16 de junho de 2010

Idosas: vítimas mais vulneráveis de violência

Pessoas com mais de 65 anos, sobretudo mulheres, são as vítimas mais vulneráveis da violência praticada contra representantes da terceira idade no Recife e Região Metropolitana. Esse é o raio-x apresentado pela Delegacia do Idoso com base nos boletins de ocorrência registrados nos últimos três anos, desde que a delegacia especializada foi inaugurada. Somente entre janeiro e março deste ano, 121 ocorrências de agressão psicológica ou física foram lavradas no órgão, sem contar as denúncias que não são registradas ou nem chegam aos ouvidos dos escrivães.


Ontem, Dia Mundial de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa, instituições lembraram a importância de denunciar os casos de maus-tratos . Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press
Maus-tratos, perturbação e apropriação (de bens materiais e dinheiro) são as infrações mais comuns. E geralmente são cometidas por homens. Os dados foram divulgados no Dia Mundial de Combate à Violência contra à Pessoa Idosa, lembrado ontem com ações no metrô pela Prefeitura do Recife e no plenário da Câmara do Recife. Apesar da criação do Estatuto do Idoso, há sete anos, essa parcela da sociedade ainda enfrenta dificuldades para ter respeito e a dignidade preservada.

"Nós estamos na luta para investigar e ajudar a punir os infratores contra os idosos. Mas esta não é uma ação que deve ser isolada. Deve ser articulada junto com as famílias, comunidade e Estado", declarou o delegado do idoso no Recife, Eronildo Rodolfo de Farias. Segundo ele, os indivíduos acima de 65 anos e as mulheres compreendem o grupo mais violentado por serem os mais "frágeis" entre as pessoas da terceira idade.

"Eles sofrem maus-tratos e violência psicológica com frequência, muita vezes dos próprios familiares e até de cuidadores. São ameaças, humilhações e situações de desrespeito em geral", comentou. Farias disse que idosos são vítimas de retenção do cartão do benefício do INSS, além de terem bens ou senhas bancárias "confiscados" por parentes. É a chamada violência financeira.

Outros tipos de violência que costumam ser registrados, porém em número menor, são a negligência (o responsável deixar de alimentar, dar medicamento ou prestar ajuda ao idoso) e o abandono.

De acordo com as estatísticas da delegacia, o crime de maus-tratos gerou 163 boletins de ocorrência para pessoas acima de 65 anos em 2009. No mesmo período, 48 pessoas entre 60 e 64 anos prestaram queixa sobre a mesma infração. Isso representa que as pessoas idosas da segunda faixa etária sofrem violência três vezes a mais que a primeira faixa. Ainda em 2009, 226 mulheres foram vítimas de maus-tratos contra 105 homens.

Ainda de acordo com o delegado Farias, esses números não refletem a realidade ao todo. "Nem todas as denúncias chegam para a gente. O que dizemos sempre é que quem souber de qualquer ato de violência contra a pessoa idosa denuncie", disse.

As denúncias podem ser feitas em qualquer delegacia e até em conselhos estadual e municipais, defensorias e no Ministério Público de Pernambuco (ver quadro). A secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã do Recife, Amparo Araújo, disse que ela própria é comunicada sobre casos e, em seguida, encaminha à polícia. "Vizinhos também ajudam muito. Há situações em que a violência extrapola os muros da residência, não dá para esconder", disse.