Pessoas com mais de 65 anos, sobretudo mulheres, são as vítimas mais vulneráveis da violência praticada contra representantes da terceira idade no Recife e Região Metropolitana. Esse é o raio-x apresentado pela Delegacia do Idoso com base nos boletins de ocorrência registrados nos últimos três anos, desde que a delegacia especializada foi inaugurada. Somente entre janeiro e março deste ano, 121 ocorrências de agressão psicológica ou física foram lavradas no órgão, sem contar as denúncias que não são registradas ou nem chegam aos ouvidos dos escrivães.
![]() Ontem, Dia Mundial de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa, instituições lembraram a importância de denunciar os casos de maus-tratos . Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press |
Maus-tratos, perturbação e apropriação (de bens materiais e dinheiro) são as infrações mais comuns. E geralmente são cometidas por homens. Os dados foram divulgados no Dia Mundial de Combate à Violência contra à Pessoa Idosa, lembrado ontem com ações no metrô pela Prefeitura do Recife e no plenário da Câmara do Recife. Apesar da criação do Estatuto do Idoso, há sete anos, essa parcela da sociedade ainda enfrenta dificuldades para ter respeito e a dignidade preservada.
"Nós estamos na luta para investigar e ajudar a punir os infratores contra os idosos. Mas esta não é uma ação que deve ser isolada. Deve ser articulada junto com as famílias, comunidade e Estado", declarou o delegado do idoso no Recife, Eronildo Rodolfo de Farias. Segundo ele, os indivíduos acima de 65 anos e as mulheres compreendem o grupo mais violentado por serem os mais "frágeis" entre as pessoas da terceira idade.
"Eles sofrem maus-tratos e violência psicológica com frequência, muita vezes dos próprios familiares e até de cuidadores. São ameaças, humilhações e situações de desrespeito em geral", comentou. Farias disse que idosos são vítimas de retenção do cartão do benefício do INSS, além de terem bens ou senhas bancárias "confiscados" por parentes. É a chamada violência financeira.
Outros tipos de violência que costumam ser registrados, porém em número menor, são a negligência (o responsável deixar de alimentar, dar medicamento ou prestar ajuda ao idoso) e o abandono.
De acordo com as estatísticas da delegacia, o crime de maus-tratos gerou 163 boletins de ocorrência para pessoas acima de 65 anos em 2009. No mesmo período, 48 pessoas entre 60 e 64 anos prestaram queixa sobre a mesma infração. Isso representa que as pessoas idosas da segunda faixa etária sofrem violência três vezes a mais que a primeira faixa. Ainda em 2009, 226 mulheres foram vítimas de maus-tratos contra 105 homens.
Ainda de acordo com o delegado Farias, esses números não refletem a realidade ao todo. "Nem todas as denúncias chegam para a gente. O que dizemos sempre é que quem souber de qualquer ato de violência contra a pessoa idosa denuncie", disse.
As denúncias podem ser feitas em qualquer delegacia e até em conselhos estadual e municipais, defensorias e no Ministério Público de Pernambuco (ver quadro). A secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã do Recife, Amparo Araújo, disse que ela própria é comunicada sobre casos e, em seguida, encaminha à polícia. "Vizinhos também ajudam muito. Há situações em que a violência extrapola os muros da residência, não dá para esconder", disse.