quarta-feira, 16 de setembro de 2009

No mundo, há entre 50 milhões e 100 milhões de viciados em internet.

No mundo, há entre 50 milhões e 100 milhões de viciados em internet. Isso corresponde entre 5% e 10% do total de internautas do planeta, segundo artigo da pesquisadora Diane Wieland publicado na revista "Perspectives in Psychiatric Care".

Embora não haja estudo conhecido sobre o assunto exclusivamente sobre o Brasil, o tema é tratado com seriedade no país. Em São Paulo, há serviços que cuidam de pacientes que deixaram a internet tomar conta de suas vidas.

O vício em internet pode ser uma doença mental, segundo Jerald Block, médico que defende que essa dependência entre no livro de referência da Associação Americana de Psiquiatria, que categoriza e diagnostica doenças mentais.

Em artigo publicado em março, no "American Journal of Psychiatry", o psiquiatra da Universidade de Ciências e Saúde de Oregon, em Portland, diz que os sintomas do vício por uso excessivo de internet são associados à perda da noção do tempo, à negligência de impulsos básicos e aos sentimentos de irritação, tensão ou depressão caso o computador esteja inacessível.

Há cerca de três anos o Ambulatório dos Transtornos de Impulso do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo oferece tratamento a indivíduos dependentes de internet. Apesar da escassez de informações sobre o problema, o perfil das pessoas que buscam auxílio no local está surpreendendo pesquisadores e revelando um padrão diferente do esperado para este tipo de transtorno.

Para o coordenador do setor de Dependência em Internet do HC, o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, o recorde é preocupante.A faixa etária dos viciados em internet é muito ampla. O psicólogo relatou casos de pessoas com mais de 70 e menos de 10 anos que buscam auxílio no hospital. Ele relata, que os mais velhos tendem a gastar muito tempo em redes sociais e comunicadores instantâneos, enquanto os mais jovens ficam dependentes de jogos. Ele ainda afirmou que é crescente o número de casos entre pessoas das classes C e D. "Existem lan-houses que cobram dois reais por até seis horas de conexão. Muitos estão descobrindo a internet agora."

Abreu também explicou que o tempo de navegação não é um fator determinante para diagnosticar a dependência. Segundo ele, os casos mais graves se caracterizam por uma "progressiva troca da vivência real pela virtual". O psicólogo, que classificou alguns dos pedidos de ajuda como "chocantes".

- O caso de um adolescente que ficou quase dois anos sem sair de casa e só foi levado ao ambulatório após a mãe prometer a compra de um novo teclado.

- Um professor universitário usa a internet para abastecer sua coleção de fotos de mulheres obesas. Ao longo de um ano, acumula 4 milhões de arquivos.

- Um adolescente de 17 anos passa 35 horas conectado à internet, sem intervalo.

Tratamentos

Um dos objetivos do programa de tratamento do Ambulatório dos Transtornos de Impulso do Hospital das Clínicas (HC) de é promover a tomada de consciência do dependente. A ideia é devolver aos pacientes a perspectiva do controle e da auto-regulação no uso da rede.

Para se submeter ao tratamento, que dura 18 meses, é preciso se encaixar em pelo menos cinco dos oito tópicos apresentados na do centro.

Para fazer o teste, clique aqui http://www.dependenciadeinternet.com.br/article/archive/7/

Uma vez aceito, o paciente é submetido à psicoterapia de grupo. "Funciona para que eles possam reconhecer o que têm. Eles são apresentados ao problema e recebem indicações do que fazer além de usar a internet. Ao contrário do álcool e das drogas, que o paciente tem que prometer que não vai mais usar, os dependentes precisam aprender a dosar o tempo", afirma Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do centro.

Segundo ele, em geral, os pacientes apresentam quadros de depressão, fobia social ou transtorno bipolar do humor. "São pessoas mais fechadas, introspectivas, que preferem a internet porque têm dificuldade de se relacionarem com outras pessoas. Mas também há gente extrovertida que acaba ficando dependente."

Durante o tratamento, a equipe do centro tenta fazer um "desmame" da internet, para que o paciente tenha experiências na vida real. "Em vez de entrar no MSN, sugerimos que ele pegue o telefone. Em vez de marcar um encontro virtual, indicamos um real. Às vezes entramos com medicação para tratar de depressão".

Fonte: Estadão