A morte pode ser vista como um mistério incompreensível. Ou
como um absurdo inaceitável. A morte pode até ser tratada como um tabu. Mas,
seja como for, aceitemos isso ou não, a morte é uma realidade inexorável. Por
mais que queiramos nos esconder dela, deixar de existir é tão natural quanto
existir. Na verdade, a morte é provavelmente a única coisa certa na sua
existência ou na minha: é certo que todos nós vamos morrer um dia.
Pode-se aceitar a inevitabilidade da morte e olhá-la de frente. Ou pode-se
negá-la, fugir dela, imaginar que não pensar na morte possa fazer com que ela
deixe de acontecer com você ou com a sua família. Mas todos nós estamos
programados para nascer, crescer e morrer – uma obviedade esquecida por boa
parte da sociedade ocidental contemporânea, que teima em ver a morte como um
evento inesperado e injusto. Sobretudo, costumamos vê-la como um evento
exclusivo, pessoal, que isola quem sofre uma perda de todo o resto do mundo.
Mas não há nada menos exclusivo do que morrer. Como está expresso na fábula
tibetana, a morte não é privilégio nem desgraça particular de ninguém. Ela
chega para todos, sem exceção.
Mas, afinal, se a morte é tão comum e corriqueira, por que ela nos causa tanto
medo? “O maior desejo do homem é a imortalidade”, diz a psicóloga Ingrid
Esslinger, da Universidade de São Paulo (USP), acostumada a atender pessoas em
situação de luto. “Por isso, muitas vezes a morte é considerada uma inimiga.” E
uma adversária, que poderia ser vencida pelos avanços científico-tecnológicos
do século 20, que aumentaram a eficiência dos diagnósticos, dos medicamentos,
das técnicas cirúrgicas etc. Soa como um despropósito falar de morte a quem tem
as descobertas da ciência a seu favor. Afinal, se existem meios de prolongar a
vida útil do ser humano, de manter-se jovem, por que pensar na finitude?
É um paradoxo: a valorização da vida e a ilusão de eterna beleza e jovialidade
trazidas pela vida moderna acabam gerando, por meio do apego a tudo isso, muito
mais tristeza e sofrimento pelo fim inevitável da existência do que felicidade
pelo mais de vida que proporcionam. O ocidente transformou a morte em tabu: ela
costuma ser banida das conversas cotidianas. Tudo aquilo que possa lembrá-la é
escamoteado. Os doentes morrem no hospital, longe dos olhos – e, não raro, do
coração – de seus amigos e parentes. E os rituais de luto são cada vez mais
rápidos. O medo natural que todo ser humano sente diante da própria finitude
vira pânico. E mesmo a morte natural acaba virando sinônimo de aniquilamento
sumário. O que, no mais das vezes, não corresponde à realidade por se tratar
simplesmente de uma vida que chegou ao fim.
Hora de ir embora
O primeiro passo para conviver melhor com a idéia da morte é esquecer aquela
imagem medieval, um tanto tétrica, de um esqueleto coberto com uma capa preta
carregando uma foice afiada na mão. Talvez uma imagem melhor para a morte seja
imaginá-la como o fim de uma festa: você já sabia que ela teria que acabar, em
algum momento. E, pensando bem, talvez não seja de todo mal que a festa
termine. Você agüentaria dançar na pista para sempre? Por melhor que seja a
música, tem uma hora que seu corpo e sua mente pedem descanso. E aí, talvez,
seja o momento mesmo de sair da pista, serenamente, sem traumas, e dar lugar a
quem está chegando à festa cheio de gás.
O medo da morte é inerente ao desenvolvimento humano. Aparece na infância, a
partir das primeiras experiências de perda. E tem várias facetas: trata-se de
um medo do desconhecido, somado ao medo da própria extinção, da ruptura da teia
afetiva, da solidão e do sofrimento. “O medo da morte é fundador da cultura”,
diz a socioantropóloga Luce des Aulniers, responsável pela disciplina de
estudos sobre a morte, da Universidade de Quebec, em Montreal, Canadá. “Esse
medo funciona como pivô e como motor de todas as civilizações. A partir do
desejo de perenidade, se desenvolvem as instituições, as crenças, as ciências,
as artes, as técnicas e mesmo as organizações políticas e econômicas.”
Esse é o lado, digamos, vital da morte. “O medo da morte nos força a viver – a
nos relacionar, a procriar, a criar, a construir coisas que nos transcendam”,
diz a pesquisadora canadense. Na ilusão da imortalidade, o ser humano acredita
que suas obras sejam permanentes e garantam que ele não seja esquecido. Cada um
adapta, à sua própria maneira, a máxima “plantar uma árvore, escrever um livro
e fazer um filho”. Para o nosso inconsciente, a morte nunca é possível nem
admissível quando se trata de nós mesmos. “A idéia da não-existência provoca
tal desconforto que a mente humana acaba criando alguns mecanismos de defesa
para fugir dessa realidade”, diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke
Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, em São Paulo. A negação e a
repressão da idéia de morte são exemplos desses artifícios.
Terror ancestral
Nada disso é novidade. Desde os tempos mais remotos, os homens já enxergavam a
morte como elemento antagônico à vida. Talvez fosse mais fácil aceitá-la como fato
natural quando ela acontecia aos borbotões, quando a expectativa de vida das
pessoas era de 35 anos. Mas o estranhamento e o terror sempre existiram. As
pinturas nas paredes de cavernas como Lascaux e Chauvert, na França, revelam o
incômodo que a morte provocava no homem de 30 mil anos atrás. Episódios
alegres, como caçadas, eram retratados em cores vivas. As imagens fúnebres, por
sua vez, eram pintadas com cores escuras.
O antagonismo se mantém dentro de cada um de nós, no jogo constante entre Eros,
o deus grego do amor, e Tanatos, o deus da morte, para usar uma imagem cunhada
por Sigmund Freud, fundador da psicanálise. As forças da vida, representadas
por Eros, estimulariam o crescimento, a integração, a autoproteção e a
sobrevivência. As forças da morte, representadas por Tanatos, alimentariam os
instintos destrutivos e as atitudes de auto-sabotagem, por exemplo. Da
conciliação de todas essas forças contraditórias, surgiriam o equilíbrio e o
vigor emocional necessários para viver.
No entanto, o medo de morrer pode gerar um apego desmedido a elementos
cotidianos e um conseqüente desespero diante da possibilidade de vir a “perder
tudo” com a morte – a companhia dos amigos, o carro novo, os imóveis, o status
social, os projetos não realizados. No budismo, assim como na tradição cristã,
o desapego é condição essencial para uma “boa morte”. “Normalmente assumimos
que precisamos dominar alguma coisa para que ela nos traga felicidade. E nos
perguntamos: como é possível saborear alguma coisa se não podemos possuí-la?”,
escreve Sogyal Rinpoche, em seu O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. “Mas, na
morte, não podemos levar nada conosco.” Eis aqui outro paradoxo: para viver
bem, sem o tormento da idéia do fim, é preciso cultivar um certo desapego em
relação à vida.
Em certas ordens religiosas católicas, os monges, ao se encontrarem nos
corredores do mosteiro, costumam dizer uns aos outros: “Memento mori”,
expressão latina que significa “lembre-se de que vai morrer”. A saudação – que
é o contraponto de “Carpe diem” (“aproveite o dia”) – funciona como um
exercício de aceitação da morte. O contrário disso é o culto ao ego, ao
“pequeno eu” que há dentro de cada um de nós, manifestado na não-aceitação do
curso natural dos acontecimentos. E que está presente no indivíduo que tenta se
colocar acima do todo a que pertence. Na vida, quanto mais você está centrado
em si mesmo, mais você sofre com a ausência de solidariedade, com a falsa idéia
de que está desamparado. Na morte, acontece a mesma coisa. Quanto menos você
compartilha a sua dor, mais insuportável ela se torna.
Morra na filosofia
Para quem busca na filosofia maneiras de lidar melhor com a morte, as reflexões
finais do filósofo grego Sócrates – condenado a tomar cicuta, um veneno letal
–, feitas no século 5 a.C., representam um excelente exercício de aceitação.
“Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas. Ou o morto não tem
absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja. Ou,
como se diz, a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma,
uma migração deste lugar para outro”, afirmou Sócrates. Para quem não acredita
na continuação da vida, a morte é o nada, é o fim das aflições. E para quem acredita
na continuação da vida, a morte é a passagem desta existência para outra
melhor. De qualquer modo, a dor estaria na vida e não na morte.
A morte é um assunto tão complexo que sequer há uma concordância entre os
cientistas quanto à sua definição. No campo filosófico, essa discussão fica
ainda mais sinuosa. “Apesar de considerarmos a morte como um evento
biologicamente irreversível, ela não pode ser determinada exclusivamente pelo
critério biológico, pois envolve também questões ontológicas e filosóficas”,
afirma o patologista forense Marcos de Almeida, professor de medicina legal e
bioética da Universidade Federal de São Paulo. Alma e consciência são
sinônimos? Existe uma alma imortal? Se sim, para onde ela vai quando morremos?
Sem respostas da ciência, o homem busca nas religiões as explicações para a
morte. Para uns, trata-se de uma passagem. Para outros, é uma forma de
libertação do sofrimento. Há ainda aqueles para quem morrer é simplesmente
deixar de existir.
“Pesquisas demonstram que pessoas com forte grau de envolvimento religioso,
independentemente da crença, geralmente têm menos medo da morte”, afirma a
psicóloga Maria Júlia Kovácz, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a
Morte da USP e autora de Morte e Desenvolvimento Humano. “A fé ajuda a superar
a ansiedade em relação à idéia de finitude”, diz ela. Para o psicanalista
Roosevelt Cassorla, “na religião o indivíduo convive melhor com a finitude
porque lá encontra certezas sobre por que vive, por que morre e o que acontece
após a morte”.
Se há uma outra vida que se segue à morte, existiria então uma continuidade da
mente ou do espírito. “Viver em função dessa continuidade nos torna mais
responsáveis pelas conseqüências dos nossos atos”, diz a psicóloga Bel Cesar,
do Centro de Dharma da Paz, em São Paulo, e autora de Morrer Não se Improvisa.
“O fruto apodrece, cai no chão, mas deixa a semente que dará vida a outro
fruto. Assim também conosco.” A visão espiritual da morte implica desapego.
Afinal, é também por meio da aceitação da impermanência humana que a religião
ajuda a suavizar o sofrimento causado pela finitude. Por outro lado, a idéia de
transcendência, do indivíduo que vence a morte, paradoxalmente embute uma
aspiração à perenidade, ao não admitir que o sujeito chegue a um fim.
A negação do fim
Em oposição à visão espiritualista da morte, há a tradição materialista
ocidental, que surgiu na Antiguidade e depois foi retomada pelos filósofos do
iluminismo, a partir do século 18, para a qual a morte é o fim total e
absoluto. Nada mais do que a interrupção de um processo neurofisiológico. Essa
concepção, mais tarde lapidada pelos existencialistas, como o francês Jean-Paul
Sartre, funda muito da nossa visão de que morrer é uma idéia inconcebível com a
qual é impossível lidar. “Morrer é um absurdo”, escreveu o filósofo
existencialista Arthur Schopenhauer (1788-1860). A morte não cabe na idéia
cartesiana de vida – para a qual tudo poderia ser medido, compreendido,
planejado.
O Ocidente, em seu esforço por não admitir a morte, está há pelo menos 30 anos
obcecado pela idéia do jovem como metáfora de vida saudável. O envelhecimento é
visto sempre como decrepitude – e a morte é vista sempre como a epítome disso.
“Há uma negação muito clara da finitude. Sobretudo porque os valores da
sociedade de massa e de consumo são antagônicos à idéia de morte: o fetichismo
da juventude eterna, os ideais de progresso, a acumulação de bens, a busca da
imortalidade”, diz Olgária Feres Matos, professora do Departamento de Filosofia
da USP. A sociedade ocidental vive um presente perpétuo. “Não há nem a visão de
um futuro nem a evocação de um passado. Por isso, a morte não é admitida como
uma experiência humana aceitável”, afirma Olgária. O resultado é uma sociedade
atormentada, que busca inutilmente a felicidade em fugas da realidade de que um
dia iremos deixar de existir.
Mesmo no mundo ocidental, no entanto, sobrevivem tradições que, ao festejar a
morte, celebram a vida. O “Dia dos Mortos”, no México, é um exemplo disso.
“Ainda existem aldeias que desenterram os mortos nesse dia. Trata-se de um
costume indígena milenar. As refeições são feitas no cemitério, e as crianças
ganham doces e bombons em forma de caveiras”, diz o historiador Leandro Karnal,
professor de história da América na Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). “No interior do país, sobrevive a prática de conversar com os mortos
para colocá-los a par do que aconteceu durante o ano.” As famílias preparam
altares para seus falecidos e neles colocam os objetos que guardam uma relação
afetiva com o parente que se foi: livros, discos, cigarros, comidas,
fotografias. Vale tudo que tenha tido algum valor para o morto.
A morte já foi vista de modo mais familiar pelo Ocidente. E não faz tanto
tempo. Até meados do século passado, era costume morrer em casa. “A família
reunia-se em volta do leito para ouvir a última palavra daquele que estava
mor–rendo”, afirma o historiador Eduardo Basto de Albuquerque, da Universidade
Estadual Paulista, em Rio Claro. “Era um momento de despedida.” Não se ocultava
das crianças a morte como se faz atualmente. O velório também era, na maioria
das vezes, realizado em casa – tradição que sobrevive em algumas cidades do
interior do Brasil. “Existiam comidas típicas para a ocasião. Os parentes
preparavam alguns pratos para receber os conhecidos que participavam do
enterro. Havia, inclusive, cânticos e orações especiais para o momento”, diz
Eduardo.
A expulsão da morte da nossa intimidade é uma metáfora da negação da finitude
que operamos em nossas próprias vidas. “Os rituais de morte estão presentes em
todas as sociedades do planeta. Servem para a compreensão ‘social’ do fenômeno:
ajudam a digerir o impacto provocado pela perda do outro e funcionam como fator
de agregação daquela sociedade”, diz o antropólogo Guillermo Ruben, da Unicamp.
“Os rituais seculares foram esvaziados de sentimentos e significado”, escreveu
o sociólogo alemão Nobert Elias, na arguta análise da experiência de morte nos
dias de hoje, presente em A Solidão dos Moribundos. “O crescente tabu da
civilização em relação à expressão de sentimentos espontâneos e fortes trava
suas línguas e mãos. E os viventes podem, de maneira semiconsciente, sentir que
a morte é contagiosa e ameaçadora; afastam-se involuntariamente dos
moribundos”, afirmou.
O temor do “contágio” pela morte explica a solidão e a frieza das unidades de
terapia intensiva, onde, muitas vezes, os doentes terminais morrem sem a
possibilidade de dizer uma última palavra aos que amam e sem ninguém que lhes
ofereça conforto espiritual. Claro que morrer assim dá muito medo.
Estabelece-se aí um círculo vicioso: temos pânico da morte porque ela parece
horrível e a tornamos mais horrível do que poderia ser porque nos afastamos
dela – e de quem morre.
Processo natural
No início dos anos 70, iniciou-se um movimento de humanização da medicina,
principalmente no campo do atendimento aos pacientes terminais. A enfermeira
britânica Cicely Saunders inovou ao propor um atendimento multiprofissional aos
portadores de câncer avançado, em locais chamados hospices. Nesses abrigos, o
doente conta com os cuidados médicos e com a proximidade da família. Da equipe
multiprofissional fazem parte também psicólogos e sacerdotes de diferentes
religiões, prontos a oferecer assistência psicológica e espiritual. O
“movimento hospice” incentivou a criação das unidades de cuidados paliativos,
que funcionam ligadas aos hospitais, e do home care, o atendimento domiciliar a
pacientes terminais.
No Brasil, o pioneiro na divulgação dos cuidados paliativos foi o médico Marco
Tullio de Assis Figueiredo, professor da Universidade Federal de São Paulo.
Além de ter criado dois cursos voltados aos estudantes da área de saúde – um
sobre tanatologia (o estudo da morte) e outro sobre cuidados paliativos –, ele
implantou uma Unidade de Cuidados Paliativos no Hospital São Paulo. “Os
estudantes de medicina, em geral, nada aprendem, em seus cursos, sobre a
morte”, diz ele. “Por isso, vemos médicos tentando manter a vida do paciente a
qualquer preço, mesmo que isso implique mais sofrimento para o doente.” Tal
prática é conhecida como distanásia, conceito que significa a tentativa de
adiar a morte o máximo possível e de conseguir uma sobrevida sem qualquer
qualidade.
Num esforço para reaproximar o tema do cotidiano de crianças, adolescentes,
adultos e idosos, a equipe do Laboratório de Estudos sobre a Morte, da USP,
preparou uma trilogia de ví-deos chamada Falando de Morte. Cada episódio é
dedicado a uma fase da vida. E a morte é vista como uma delas. O objetivo é
estimular discussões sobre o assunto na escola, na família, nos hospitais.
“Falar da morte é transformá-la em aliada, conselheira, em uma presença
natural”, afirma Ingrid Esslinger, integrante da equipe.
Na filosofia oriental, existem práticas específicas de preparação para a morte.
A principal delas é a meditação, que tem o objetivo de domar a mente, a
ansiedade e as emoções negativas sempre – mas especialmente no momento em que a
pessoa se aproxima da morte. Uma das imagens utilizadas na meditação para
caracterizar os instantes finais da existência é a de uma bela atriz sentada em
frente ao espelho. O último espetáculo está prestes a começar. Ela retoca a
maquiagem e repassa toda a sua fala antes de pisar no palco pela última vez.
Está preparada para a apresentação derradeira.
Reconcilie-se com a morte. Não por morbidez, não para se esquecer de viver, não
porque seja bom deixar de existir. Mas simplesmente porque ela vai acontecer e
não somente com você – mas com todos os que andaram, andam ou venham a andar
sobre a Terra. A você e a mim, portanto, resta apenas aprender a conviver com
ela. Encará-la de frente, compreendê-la, admiti-la. Em vez de tentar
escamoteá-la, negá-la, escondê-la debaixo do tapete. E, quem sabe, assim,
sofrer menos com a visita que ela nos fará um dia e com os eventuais sinais da
sua presença que ela já tenha plantado ao nosso redor. Desejo uma excelente
vida para você, caro leitor. E uma boa morte.
Fonte: Revista Superinteressante
Para saber mais:
A Arte de Morrer - Marie de Hennezel e Jean-Yves Leloup. Editora Vozes,
Petrópolis, 1999
A Solidão dos Moribundos - Nobert Elias. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro,
2001
Da Morte - Roosevelt Cassorla (org.). Papirus Editora, Campinas, 2001
Distanásia – Até Quando Prolongar a Vida? - Leo Pessini. Edições Loyola/Editora
do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, 2001
Memento Mori - Muriel Spark. Companhia das Letras, São Paulo, 2001
Morrer Não se Improvisa - Bel Cesar. Editora Gaia, São Paulo, 2001
Morte e Desenvolvimento Humano - Maria Júlia Kovácz. Casa do Psicólogo, São
Paulo, 1992
O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Sogyal Rinpoche. Editora Talento, São
Paulo, 1999
Reflexões sobre a Vida e a Morte - Vera Lúcia Rezende (org.). Editora da
Unicamp, Campinas, 2000
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste