segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Jornada menor atrai mais idosos


Contingente de profissionais de 60 anos ou mais cresceu 65% em dez anos, de acordo com levantamento do IBGE

Luiz Beltramim
Independentemente ao fato de trabalharem em casa ou no escritório, o fato é que boa parte dos profissionais no País já permanece menos tempo entre as paredes do ambiente corporativo. É o que mostram dados de um dos recortes do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Conforme o estudo, em 2000, 44% dos trabalhadores permaneciam mais do que 45 horas no trabalho.
Em 2010, esse número baixou para 28%. Em termos absolutos, as porcentagens revelam que cinco milhões de pessoas passaram a trabalhar menos do que cinco horas por dia.

O Censo ainda mostra que a quantidade de trabalhadores com 60 anos ou mais é 65% maior do que dez anos atrás. Conforme apurado pelo IBGE, atualmente existem no Brasil 5,4 milhões de profissionais nessa faixa etária, contra 3,3 milhões que estavam no mercado durante o início da década passada.

Em Bauru não é diferente e é comum encontrarmos trabalhadores, muitas vezes aposentados das atividades em que exerceram durante décadas, recém-ingressados em novos postos de trabalho.

Seja por necessidade, para complementação de renda durante a aposentadoria, ou até mesmo para “não enferrujar”, a população da terceira idade quer mais é colocar a mão na massa.

Um dos exemplos de retorno ao batente depois da aposentadoria oficial é o auxiliar administrativo Paulo Sérgio Campos. Prestes a completar o aniversário limite que determina a “terceira idade”, ele diz ter orgulho e prazer em trabalhar com colegas que teriam idade para serem seus filhos.

Quase que imediatamente após se desligar da ativa como professor de Matemática da rede estadual de ensino, ele prestou concurso para o cargo no setor de multas da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru, a Emdurb. “Não houve um tempo parado. Prestei concurso pouco após a aposentadoria como professor. Minha família apoiou muito. Não me vejo ainda sem fazer nada”, confessa.

Morador do Jardim América, Campos ainda diz encontrar tempo para outros afazeres, não menos importantes garante, apesar de não terem o caráter profissional. “Sou atuante na paróquia São Cristóvão, ajudo no ministério musical”, orgulha-se Paulo, que toca violão seja na igreja ou nas horas vagas, em casa.

Há dois anos e meio na repartição da autarquia municipal, Paulo não esconde a empolgação por conhecer e desenvolver algo novo, diferente da sala de aula e quadro negro com os quais conviveu durante três décadas de magistério. “É uma rotina muito diferente da qual que estava acostumado. São muitas novidades”, considera, empolgado principalmente com o monitoramento das imagens captadas pelas câmeras nos radares de velocidade espalhados pelas ruas da cidade. “Os mais velhos, até um tempo atrás, eram vistos com ressalvas, principalmente quanto ao aprendizado de novas tecnologias”, recorda. “Mas não é o que ocorre. O envolvimento, assim como a disposição para o aprendizado, são grandes”, enaltece.


Formalização

O retrato do mercado de trabalho brasileiro apontado pelo mais recente Censo do IBGE, de acordo com o economista bauruense Kleber Luiz Nardoto Milaneze, principalmente no que tange às jornadas de trabalho menores, é fruto da maior formalização.

Para Milaneze, que é professor das Faculdades Integradas de Bauru (FIB), entretanto, os estudos ignoram acordos entre funcionários e empresas, entre eles o banco de horas, com a compensação, por meio de folgas, dos períodos a mais em que colaboradores permanecem no trabalho. “Pagar hora extra é caro, então se reduziram as horas contabilizadas oficialmente”, pondera.

Atualmente, também de acordo com os números do último Censo, o contingente de trabalhadores com carteira assinada é de 44% da massa de trabalho no Brasil, 18% maior do que no ano passado. A informalidade caiu de 24% para 18%.

A menor jornada também está ligada ao aumento real no salário do brasileiro em geral em relação a dez anos antes do último levantamento do IBGE.


‘Worklovers’ seguem firmes

Embora se ganhe mais trabalhando menos, em linhas gerais, ainda há quem permaneça muito mais tempo no batente do que a maioria dos profissionais. No entanto, essa parcela de trabalhadores, na realidade, é a dos chamados “viciados” em trabalho, os workaholics ou worklovers (apaixonados pelo trabalho, em inglês), em termos mais leves.

Para especialistas em saúde relacionada ao trabalho, o maior desafio deles é equilibrar a paixão com hábitos saudáveis. Os chamados worklovers, diferentes dos workaholics, seriam aqueles profissionais não menos apaixonados pelo o que fazem. Contudo, eles conseguem equilibrar cuidado com a saúde e dedicação ao ofício.

Parte desse equilíbrio, comenta Elaine Saad, vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), é atribuída a junção dos vetores profissional e pessoal vivenciada por esses trabalhadores. “O que acontece é que a vida pessoal deles mistura-se, de alguma forma, com a vida profissional. Eles acabam tendo um prazer que advém de ambas”, atribui.