quarta-feira, 6 de março de 2013

Serviço de Psicologia Clínica para Idosos é pioneiro no SUS

Serviço de Psicologia Clínica para Idosos é pioneiro no SUS - 3/3/2013ImprimirE-mail
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fernando_genaroEstudo do Instituto de Psicologia (IPUSP) analisa a experiência pioneira de implantação de um serviço de Psicologia Clínica, voltada à saúde de idosos, no Centro de Referência do Idoso da Zona Norte de São Paulo (CRI-ZN), pertencente ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A fim de compreender as necessidades específicas dessa faixa etária e buscar maneiras de supri-las, Fernando Genaro Junior, o psicólogo responsável pelos atendimentos clínicos do CRI-ZN, realizou essa pesquisa, que resultou em sua tese de Doutorado “Clínica do Envelhecimento: o processo de implantação de um serviço de psicologia clínica no SUS”, defendida no Instituto de Psicologia da USP, em fevereiro de 2013.
 
fachada_cri_norteTal serviço foi implantado em 2007, desde então, Fernando, que arquitetou o projeto, mesmo sem pensar ainda em fazer dessa experiência uma tese de doutorado, produziu uma espécie de diário de campo, coletando os dados dos pacientes. O atendimento foi organizado e norteado por dois eixos: o psicodiagnóstico e o de terapia – eixo psicoterápico. O psicodiagnóstico é a porta de entrada do paciente e consiste na avaliação do mesmo, individualmente, já no eixo psicoterápico, as consultas compõem-se de atendimentos tanto individuais quanto grupais. Dentre os grupos terapêuticos, de no máximo oito pessoas, existem os temáticos que contam com pessoas de mesma situação clínica ou médica: “é muito proveitoso escutar que existe alguém na mesma condição, e então trocar experiências” disse o psicólogo. Os pacientes, em sua maioria, não têm receio em compartilhar suas histórias diante de um grupo, Fernando afirma que existe a necessidade de ter alguém que escute, ainda mais na velhice, então ele conta que o trabalho sempre flui com facilidade.

“Diante da psicologia que a gente conhece como Psicologia do Desenvolvimento, alguns autores vão sendo colocados em xeque” explicou o pesquisador. Na Psicologia do Desenvolvimento, a velhice ainda pouco compreendida em suas vicissitudes. Para autores mais clássicos, como Freud, a partir da maturidade, não seria mais possível ajudar psicologicamente, e que o destino fadado era o declínio e morte.
 
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Fernando Genaro Junior usou como base para sua pesquisa os teóricos Winnicott, seus ensinamentos acerca da importância do ambiente ao longo da vida, e Gilberto Safra, para discutir as questões constitutivas e éticas próprias da clínica do envevelhicimento.
As demandas do paciente idoso na psicologia clínica são específicas: a medida que se envelhece, perdas acontecem em todos os âmbitos, inclusive no próprio corpo, por isso, ao lidar como idoso, o psicólogo precisa estar em um diálogo contínuo com o luto. “Do ponto de vista clínico, uma das questões que aparece claramente, é uma certa desconstrução do si mesmo, um certo desvencilhamento”, comenta Fernando.

Entre essas desconstruções encontra-se a sexualidade, um tema tratado pelos idosos nas consultas psicológicas. Além disso, a necessidade do perdão é um assunto muito recorrente, segundo o pesquisador: “Porque dentro da revisão do sentido da vida é muito presente a necessidade de se perdoar, de perdoar aquilo que não aconteceu, ou perdoar aquilo que aconteceu, mas aconteceu de um jeito torto, enfim, perdoar a vida, para que se abra um novo espaço onde algumas coisas possam ser recolocadas e vividas diante do fim, da morte.”
logo-cri-norte2Em razão do grande número de encaminhamentos, em que muitas vezes o idoso não demandava atendimento psicológico, foi decidida a realização de palestras e conversas sobre temas difíceis, e recorrentes entre os idosos, para preparação dos médicos da instituição. O resultado dessa intervenção foi muito proveitoso/vantajoso, alega Fernando Genaro Junior: “Do ponto de vista humano esses médicos começaram a se defender menos dos seus pacientes e o tipo de consulta também se tornou uma consulta melhor.” Além de reduzir a quantidade dos encaminhamentos.
Com o crescimento da população idosa faltam-se serviços especializados - principalmente na psicologia - Fernando conclui acerca da importância do que ele organizou: “A gente vive numa sociedade onde a velhice ainda vive à margem, então eu acho que a importância do serviço [desenvolvido pelo CRI-ZN] também é contemplar um lugar dedicado ao velho”.

Por Fernanda Guimarães Maranha


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