domingo, 4 de novembro de 2012

Aos 51 anos, dona de casa vai fazer Enem e quer cursar odontologia.


O pai e o marido da baiana Marlí Kunst, de 51 anos, morreram em um acidente de carro em janeiro de 2008. Segundo ela, a perda dos familiares fez com que sua vida mudasse completamente. Marlí, que nunca trabalhou e depende da pensão deixada pelo pai para sustentar a família, vai fazer no sábado (3) e no domingo (4) as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Salvador como primeiro passo para conseguir voltar ao mercado de trabalho.

“A partir do momento que fiquei viúva, nossa vida mudou muito. Meu marido não gostava que eu trabalhasse fora. Então, eu não tenho experiência de trabalho. Como eu não sabia administrar a loja do meu marido, eu resolvi fechar. O único jeito de eu voltar ao mercado de trabalho é através do estudo”, conta Marli, que pretende usar o Enem para ser aprovada no curso de Odontologia no  vestibular da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

“Este é o segundo vestibular que eu vou fazer na vida. Em 2010, eu passei em uma faculdade particular, mas não deu para continuar pagando. Vou tentar a Federal [Ufba] porque não tenho condições de pagar uma faculdade particular. Para mim, a única porta para o trabalho é o estudo”, diz Marlí, que mora no bairro da Pituba, em Salvador, com a mãe, os dois filhos, além de um irmão e um sobrinho.

“Fica muito difícil uma pessoa chegar aos 50 anos e não ter experiência de trabalho. Eu estou visando não somente um trabalho, mas uma realização também”, diz a mulher, que divide o tempo em casa com a família e com os estudos.

Marlí garante que está muito confiante na aprovação do vestibular e que irá continuar estimulando os filhos a seguirem com os estudos. “Eu estou muito otimista. Existem questões muito difíceis, mas para nível de Enem, eu não tenho muito receio. Eu sempre digo aos meus filhos que sem estudo nós não chegamos a lugar nenhum, principalmente agora que as pessoas têm mais acesso à faculdade. Agora você tem que se sobressair frente aos outros”.

Idoso de 69 anos faz Enem e busca diploma da USP em Piracicaba, SP.
Quem vê Augusto Roberto Cocina, de 69 anos, circulando pelos corredores de um cursinho pré-vestibular em Piracicaba (SP) logo imagina tratar-se de um professor ou de um funcionário antigo da instituição.
Mas assim que o aposentado de 1,73 metro de altura e poucos cabelos grisalhos entra na sala de aula e se dirige à carteira de costume, a diferença de idade em relação aos demais estudantes desaparece.
Prestes a completar sete décadas de vida, Cocina resolveu enfrentar o desafio de voltar a estudar e há três anos frequenta aulas preparatórias. O sonho é conquistar uma vaga no curso de agronomia na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba.
Antes de participar da primeira fase de um dos vestibulares mais concorridos do país em 25 de novembro, Cocina vai encarar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste final de semana como forma de treinamento, uma vez que a USP não contabiliza as notas da prova no processo seletivo.
O aposentado está entre os 932.493 inscritos para o Enem no estado de São Paulo. “A rotina de estudos é puxada para uma pessoa da minha idade, mas busco inspiração a cada novo caderno e apostila e conto com o apoio e a força jovem dos meus colegas de classe”, disse. Cocina mora em uma chácara em São Pedro (SP) e aluga um apartamento em Piracicaba, onde montou uma espécie de QG para estudar.
Rotina
Ele acorda todos os dias às 4h45, se arruma e vai de carro para o cursinho em Piracicaba, no bairro Alto. As aulas começam às 7h e de segunda, quarta e sexta acontecem apenas no período da manhã; já às terças e quintas, se estendem durante todo o dia. “Eu andava meio depressivo lá na chácara. Voltando a estudar e a ter contato com pessoas mais novas, fiquei renovado”, afirmou.

Faculdade
Entre o final da década de 1970 e o início dos anos 80, Cocina frequentou aulas em uma faculdade particular em São Bernardo do Campo (SP). O curso superior em química, no entanto, não foi concluído em razão da rotina atribulada.

Na época, ele morava em São Paulo (SP) e trabalhava no laboratório de uma empresa do ramo petroquímico. “Não consegui conciliar trabalho, estudos e família. Resolvi desistir da faculdade, mas prometi a mim mesmo que retomaria os estudos depois que criasse meus três filhos e me aposentasse”, contou.
Retomada
A aposentadoria veio em 1992, mas a retomada do sonho de conquistar um diploma universitário ainda demorou a acontecer. “Três anos atrás, com os filhos criados e ‘encaminhados’, comecei a correr atrás do prejuízo”, relatou o estudante.

E se engana quem pensa que o fato de ser o mais experiente da turma, que tem ao menos 100 alunos, alivia alguma coisa para Cocina. “Eu tenho que estudar mais que eles, que estão com a cabeça fresca do ensino médio. Eu fiquei 30 anos parado, mas me esforço bastante para acompanhar o ritmo da sala. E assim, passo a passo, busco concretizar meu sonho”, afirmou.