quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Esclerose lateral amiotrófica - Novo estudo aponta para um mecanismo comum a todas as formas e abre novas perspectivas de tratamento

25/08/2011 às 20:35 \ doenças Esclerose lateral amiotrófica Novo estudo aponta para um mecanismo comum a todas as formas e abre novas perspectivas de tratamento A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença devastadora que causa uma perda progressiva dos movimentos e da fala devido à morte dos neurônios motores. Na grande maioria dos casos não há perda da capacidade cognitiva e a pessoa se torna uma prisioneira dentro do próprio corpo. É o caso do famoso físico inglês Stephens Hawkins. Estima-se que há 350.000 pessoas afetadas ao redor do mundo que aguardam desesperadamente algum tipo de tratamento. E existem inúmeros pesquisadores ao redor do mundo trabalhando para isso. O Dr. Teepu Siddique é um deles.

Os resultados de uma pesquisa coordenada por esse cientista – que acaba de ser publicada na revista Nature – sugere que haveria um mecanismo comum a todas as formas de ELA – hereditárias e formas isoladas – o que facilitaria muito a procura de um tratamento. Como a equipe do Dr. Siddique chegou a essa conclusão? Recordando, a ELA é uma doença que geralmente acomete uma única pessoa na família (formas esporádicas) sem risco de recorrência para os descendentes. Cerca de 10% dos casos são hereditários e já foram identificados vários genes responsáveis por essas formas. Nosso grupo identificou uma forma hereditária importante há alguns anos.

 Nessas famílias, a doença pode ser transmitida através de gerações. E foi estudando uma nova forma de ELA hereditária que o Dr. Siddique fez uma descoberta importante. A sua equipe vinha seguindo uma família com vários casos de ELA. Todos tinham também demência, o que é um achado raro nessa doença. A idade de início nessa família variava entre 16 a 71 anos, sendo muito mais precoce no sexo masculino do que no feminino. Para tentar entender o mecanismo por trás da doença, o primeiro passo era achar o gene responsável. O gene estava no cromossomo X Depois de muitas pesquisas a equipe descobriu que a mutação – ou erro genético – estava em um gene no cromossomo X que é responsável pela produção de uma proteína chamada ubiquilin 2 (ubiquilina em português). Essa proteína é normalmente responsável pela degradação de várias outras proteínas da célula.

Entretanto com a mutação, a ubiquilina 2 não consegue exercer essa função. A consequência é o acúmulo e agregação dessas proteínas que deveriam ter sido degradadas causando uma neurodegeneração e morte dos neurônios motores. E nas outras formas de ELA? Para descobrir se esse defeito está restrito ao gene do cromossomo X que eles havian acabado de identificar, os pesquisadores estudaram amostras de 47 pacientes com outras formas de ELA – hereditária ou esporádica. Observaram que em todas elas havia agregados ou inclusões resultantes do mau funcionamento da ubiquilina 2, sugerindo que seria um mecanismo comum a todas as formas de ELA.

 E a demência? Seria o mesmo mecanismo? Para testar essa hipótese os pesquisadores teriam que analisar o que acontecia no cérebro dos afetados. Conseguiram estudar amostras do tecido cerebral de dois pacientes falecidos que tinham mutação nesse gene. Observaram o mesmo fenômeno: havia inclusões principalmente no hipocampo (uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano, considerada a principal sede da memória e importante também para a sensação espacial). Isso poderia explicar também a demência. Os autores também chamam a atenção para outro achado importante. Já se sabia que uma outra proteína semelhante, ubiquilin 1 ( ou ubiquilina 1) está aparentemente relacionada com a doença de Alzheimer caracterizada pela perda progressiva de memória. Qual é o próximo passo Essas observações sugerem um mecanismo comum para essas ubiquilinas.

Elas poderiam ser responsáveis pela degeneração dos neurônios motores que causam a ELA – tanto as formas esporádicas como as hereditárias – como também pela neurodegeneração que ocorre na doença de Alzheimer ou outras formas de demência. Se isso for verdade, os esforços agora poderão ser direcionados para abordagens terapêuticas relacionadas com essas ubiquilinas. Um outro dado intrigante é o início mais tardio (ou quadro mais leve) nas mulheres do que nos homens. Entender o que “protege” o sexo feminino e retardar o início da doença também poderá nos dar pistas importantes. É mais uma luz no fim do túnel. 
 Por Mayana Zatz - Veja Abril