sábado, 18 de dezembro de 2010

Falta de médicos geriatras ameaça a vida de milhares de idosos no Brasil.

O Brasil tem um geriatra para cada cinco mil idosos. O recomendável, de acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria, seria um para cada mil. Os números mostram que faltam cinco mil médicos nessa área. O país ganha todo ano quase 800 mil idosos. Por que faltam geriatras no Brasil?
A cada dois meses Dona Norma, de 81 anos, vai ao geriatra. A consulta é demorada e leva, pelo menos, uma hora e meia. Dona Norma não tem uma doença, só os problemas comuns à idade. O equilíbrio já não é mais o mesmo. As quedas preocupam a família e o médico. A memória também anda falhando um pouco.
O médico verifica o peso e a pressão, faz o exame clínico, mas a consulta não acaba. Qualquer dúvida, a acompanhante de Dona Norma, Ilzamar, liga para ele de dia ou até mesmo de noite. “Nós temos sempre um SOS pra falar com o doutor Sérgio”, comenta Ilzamar.
“O segredo é estar sempre acompanhando e equilibrando o organismo dela. Fico atento aos detalhes e às coisas especificas e pertinentes às pessoas de idade”, disse o médico Sérgio Telles.
São raros os brasileiros que, como a Dona Norma, tem o acompanhamento de um geriatra. O país inteiro tem apenas 922 médicos especializados em geriatria para uma população de 21 milhões de pessoas acima de 60 anos.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Geriatria, desses 21 milhões de brasileiros, pelo menos cinco milhões têm problemas de saúde e precisariam do acompanhamento de um geriatra. Pelos cálculos, faltam cinco mil desses profissionais no mercado.
Quando se observa o mapa de distribuição de geriatras em todo Brasil é ainda mais impressionante. São Paulo tem 410 profissionais. O Rio de Janeiro tem apenas 78. Os estados do Nordeste têm menos ainda: 11 em Pernambuco e seis na Paraíba e no Maranhão, por exemplo. Mas na Região Norte a situação preocupa: Amapá, Amazonas e Tocantins têm apenas um geriatra cada.
Geriatria não faz parte do currículo de graduação de medicina no Brasil. O país inteiro tem apenas 21 cursos de pós-graduação e 60 vagas de residência na especialidade. A presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria, Silvia Pereira, aponta mais uma causa para a falta de profissionais nessa área.
“É uma consulta longa no consultório e é uma consulta longa fora do consultório. Isso as pessoas não querem. Elas querem ficar mais livres, receber seu salário e ir embora. É uma especialidade de muito trabalho”, observa a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria.
O que acontece, na prática, é que a maioria dos idosos brasileiros não se trata com especialista em geriatria. Quando tem um problema, vai ao clínico geral, ao cardiologista ou ao ginecologista. Em uma turma de 30 idosos da Universidade Aberta da Terceira Idade, no Rio de Janeiro, só Rodelita e Tadeu têm geriatras e garantem que faz a maior diferença no tratamento especializado.
“O geriatra não enche o paciente de medicamentos. Ele conhece imediatamente o que você necessita no organismo”, diz a aposentada Rodelita Vasconcelos.
“Ele examina tudo e vê articulações. É todo trabalho especializado que é importante para o idoso. Quem puder ter, eu recomendo”, comenta o aposentado Tadeu de Carvalho.
Para o estudante ou profissional de medicina, clientela é o que não falta. A expectativa de vida dos brasileiros aumenta de geração em geração.