quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Computador é aliado de idosos

Interatividade e domínio de novas linguagens são algumas vantagens para quem entra no mundo virtual depois dos 60 anos
Publicado em 14/01/2010 | Agência Estado


São Paulo - Pesquisas feitas com alunos de cursos de informática para a terceira idade mostram que a tecnologia tem um impacto positivo na rotina de idosos e aposentados. Ao aprender a usar o computador e navegar na internet, grande parte dos homens e mulheres com mais de 60 anos se comunica mais com filhos e netos, faz novos amigos e se sente estimulado intelectualmente e integrado à sociedade.

“Os trabalhos têm mostrado que a tecnologia é eficaz em promover interação social e estimular o convívio entre os idosos”, afirma a pedagoga Kely Cristina Vieira, especialista em tecnologias da inteligência e autora de uma pesquisa com alunos da Universidade Aberta da Terceira Idade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). “Muitos são viúvos ou moram sozinhos, outros vivem longe dos filhos e netos. Com o computador, encontram uma forma de comunicação, a princípio assustadora e depois fascinante.”



Experiência pode ser de amor ou ódio

“O computador se tornou um grande companheiro. Ele ajuda a orientar, informar e formar. Assim, a pessoa não fica alheia ao mundo e aos acontecimentos.” Com essas palavras, Antonia Cunha, professora aposentada de língua portuguesa e literatura da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), resume sua experiência. Aos 74 anos, ela acessa diariamente a internet, lê e responde e-mails, procura sites sobre literatura e artes, conversa com amigos novos e antigos e orienta ex-alunos. Em alguns dias, passa as noites navegando e escrevendo. “A possibilidade de manter um contato mais fácil e rápido com familiares e amigos que estão distantes é mágica. Aproxima as pessoas e os companheiros de ideais.”

Para ela, a inserção no mundo digital apareceu como necessidade de se manter atualizada, de compreender as novas linguagens. “Não é uma questão de gostar ou não, mas da tecnologia estar tão inserida e presente no mundo que você precisa aprender a usá-la. É uma necessidade para estar acompanhando o que acontece hoje”, diz. “Ninguém quer deixar de estar em ação, de acompanhar as coisas. Comigo, o processo foi encantador. Fico horas e horas e não sinto passar o tempo.”

Depois de comprar o computador, Antonia fez um curso de um ano de informática para a terceira idade. Formada, passou a fazer sozinha suas experiências, mas ainda hoje tem um professor particular que vai até sua casa a cada 15 dias para tirar dúvidas. “No começo, dá medo do computador. Mas com o tempo você adquire confiança e tudo fica fácil.”

No entanto, nem todas as experiências com computador depois da aposentadoria são tão fáceis como a de Antonia. Para a dona de casa Aparecida Nunes Cintra, de 72 anos, computadores são um universo distante e complexo demais. “Meus filhos me pressionaram para aprender, mas eu não entendia o porquê. Nunca tive vontade”, conta. “Mesmo assim, falaram tanto que comecei a aprender e a mexer. Mas foi demais pra mim. Era tudo muito difícil, muito rápido, confuso.” Ela conta que terminou o curso, mas nunca mais ligou o computador. “Não gostei, prefiro ficar de fora.” (AE)

No entanto, a pesquisadora ressalta que as expectativas dos idosos ao aprenderem a usar o computador vão além da comunicação ou do acesso às informações cotidianas: elas estão relacionadas com a inserção no mundo atual, dominado pelos conteúdos digitais, e com a sensação de independência e liberdade. “Aprender a usar o computador é também ter conhecimento para lidar com a tecnologia em outros locais, como bancos, e para entender vocabulários e códigos que estão por toda parte.”

Não à toa, mais de 80% dos entrevistados na pesquisa afirmaram que o computador trouxe mudanças positivas em sua vida e 87% disseram que adquiriram novas habilidades. Para a bancária aposentada Cristina Souza, de 75 anos, o maior benefício foi a autonomia. “Quando vi uma receita maravilhosa na televisão e a apresentadora falou que os detalhes e os ingredientes estavam no site, percebi que precisava aprender como isso funcionava. Que isso tinha vindo para ficar”, conta.

Ela ganhou um computador de presente do filho e se matriculou em um curso. “No começo, foi difícil. Parecia que não ia dar conta, mas depois você descobre um novo mundo, parece que tudo cabe ali naquele espaço. Países, museus, os jornais e as revistas. E meu neto me manda mensagens e fotos.” Com o tempo, entrou em um fórum de discussão sobre culinária e conheceu outras mulheres com os mesmos gostos e interesses.

O aposentado Francisco Joaquim Augusto, de 65 anos, também lida semanalmente com o computador nas aulas do programa Acessa São Paulo, do governo do estado, para tentar conversar mais com o filho e a nora, que moram no interior. “É difícil, mas vamos pegando experiência e sentindo que a gente faz parte desse mundo também”, diz Augusto.

Ele faz parte dos 25% dos idosos que usam a internet no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa Cetic, levantamento feito pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostra que 73% dos idosos brasileiros que acessam a internet usam o e-mail com frequência e, desses, 36% também trocam mensagens instantâneas. Outros 26% fazem parte de sites de relacionamentos.

“Os idosos querem e devem se sentir inseridos e pertencentes à realidade em que estão. Hoje a internet está por toda parte. Eles querem se comunicar e, uma vez inseridos, usam mesmo as ferramentas”, explica Maristela Compagnoni, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), autora de uma pesquisa sobre e-mails e idosos.

Ritmo próprio

No entanto, para que a experiência com o computador seja bem-sucedida, os primeiros contatos com a máquina precisam ser feitos em um ritmo mais lento e as atividades devem ser repetidas.

“O jovem cresceu na cultura do mundo digital, está acostumado com um universo de ícones, usa o computador instintivamente. O idoso, não. Por isso é uma outra abordagem, senão você provoca frustração e decepção”, explica Vitória Kachar, professora da Universidade Aberta da PUC-SP e pesquisadora do tema.

Confira algumas opções de onde aprender
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